domingo, maio 6

UM MORTO

          O hospital era claro, cheio daqueles barulhos rápidos e volumosos que irrompem no silêncio. Era verde-claro eu acho. As camas tinham lençóis brancos, bem passados com um emblema qualquer em azul, dizendo o nome do hospital. Acho que para os doentes não esquecerem que estavam num hospital. Meu quarto tinha uma janela que dava para uma árvore. Eu gostava mais da árvore do que das pessoas que vinham me visitar. Eu não queria ver ninguém. Não queria que ninguém me visse.
          Minha morte foi mais ou menos rápida, deve ter sido dentro da média para um moribundo. Fiquei dez minutos morrendo. Pode soar doloroso ou cruel, mas quando se está morrendo não dá tempo para ficar contestando. Ou você morre ou contesta. Eu tinha contestado bastante durante a vida. Agora pretendo apenas curtir a paisagem.

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